No último ano, redes como TikTok e YouTube viram explodir conteúdos sobre “encontrar sua energia” na fé: canais e perfis que prometem comunidade e acolhimento em troca de participação em cerimônias religiosas. Esse movimento ultrapassa o âmbito espiritual e expõe uma carência de laços sociais em meio ao ultraindividualismo digital.
Tá todo mundo procurando uma religião?
Em 2020, o DataFolha apontou que 12,4 milhões de jovens de 16 a 24 anos se declaram evangélicos e 13,7 milhões, católicos. Nas redes sociais, no entanto, percebe‑se mais do que uma simples migração de fé: adolescentes e adultos sem histórico religioso passaram a buscar conversões como forma de pertencer a um grupo que se reúne várias vezes por semana, de graça e em nome de valores compartilhados.
Cadê o senso de comunidade? Efeito em adolescentes
O relatório Our Epidemic of Loneliness and Isolation mostra que, globalmente, o tempo que jovens entre 15 e 24 anos passam com amigos caiu cerca de 70% entre 2000 e 2020. No mesmo período, a solidão entre adolescentes dobrou de 2012 a 2018, acompanhando a popularização de smartphones e mídias sociais. Em ambientes marcados por “faça você mesmo” e consumo individual, as oportunidades de sociabilidade real — praças, centros comunitários e cafés — foram se esvaziando.
Cadê o senso de comunidade? Efeito em adultos
Não são só os jovens. Para a população adulta, o mesmo relatório indica que, entre 2003 e 2020, o tempo médio passado sozinho aumentou em 24 horas por mês. A expansão de lares unipessoais — que passaram de 13% em 1960 para 29% em 2022 — reflete mudanças profundas na estrutura social, transformando a solidão em sintoma de um cotidiano cada vez mais atomizado.
Onde as igrejas entram?
No vazio deixado pela crise de sociabilidade, as religiões oferecem um terceiro espaço gratuito, onde grupos de valores semelhantes se reúnem com disciplina semanal. Especialmente entre as classes C e D, jovens têm encontrado nas igrejas pentecostais e neopentecostais não apenas fé, mas suporte emocional e, em muitos casos, ajuda material. A frequência a esses cultos passa a ser, para muitos, a principal fonte de convívio coletivo.
Você precisa de uma religião ou de uma comunidade?
Embora a fé seja experiência profunda para parcela significativa, grande parte dos novos frequentadores reconhece que buscava sobretudo amizades e pertencimento. As igrejas preenchem a lacuna dos laços cotidianos, mas não garantem a construção de vínculos fora de seus muros. O desafio, portanto, é criar — dentro e fora do ambiente religioso — espaços que promovam convivência genuína, nutrindo relações duradouras e atendendo à demanda crescente por coletividade em um mundo cada vez mais solitário.
#ainternetquegentequer