Homem vota em homem – e em conservador: por que?

Uma anatomia do voto masculino revela prioridades que vão além de partidos

Você já se perguntou por que tantos candidatos conservadores ou com discursos mais extremos sobre segurança pública, polícia e religião conseguem conquistar o voto de tantos homens? Por que homens que, em sua maioria, dizem defender a família, suas mulheres e crianças, acabam optando por nomes sem propostas contundentes para essas mesmas causas? E por que esse eleitorado raramente abre espaço para candidaturas femininas, mesmo quando compartilham ideologias semelhantes?

Fizemos um dever de casa: analisamos os programas de governo dos principais candidatos de cinco grandes capitais do país e cruzamos esses dados com pesquisas de intenção de voto. O que descobrimos é um comportamento eleitoral que gira em torno de temas como violência urbana, posicionamento religioso e culto à personalidade — mais do que identificação partidária ou afinidades de gênero.

Quem é o homem que vota no Brasil?

Homens representam 48% do eleitorado brasileiro, totalizando 74.076.997 eleitores. A faixa etária mais numerosa é a de 25 a 29 anos (7,7 milhões), seguida pelos 40 a 44 anos (7,6 milhões), segundo o TSE. No quesito escolaridade, 25,44% dos homens têm apenas o ensino médio completo e 24,15% não terminaram o ensino fundamental. As taxas de analfabetismo entre homens e de quem possui ensino superior completo ou mestrado são significativamente menores, especialmente quando comparadas à escolarização média das mulheres.

Com o que o eleitor homem brasileiro se importa?

Ao cruzar o perfil eleitoral dos candidatos nas maiores capitais com o perfil dos eleitores, fica nítido que a maioria dos homens tende a escolher candidatos conservadores ou de centro. Pautas como enfrentamento à violência urbana, discurso policial, religião e culto à personalidade do candidato têm mais peso do que bandeiras partidárias. Em outras palavras, é a imagem de força, liderança e compromisso moral — mais do que o programa de governo — que realmente move esse eleitorado.

Por que fé, empreendedorismo e “homem de ação” têm tanto apelo?

  • Religião: serve como guia moral, oferecendo a sensação de que valores éticos serão preservados.
  • Culto à personalidade: carisma e a aura de “homem de ação” transmitem confiança em soluções práticas e rápidas.
  • Empreendedorismo: símbolo de sucesso individual, abreviando a lógica de “se ele fez na vida privada, vai fazer no poder público”.

Quais são as pautas mais rejeitadas pelos homens?

Abortos, feminismo e direitos das mulheres figuram entre os temas de menor simpatia no eleitorado masculino. Não se trata apenas da sub-representação feminina em cargos públicos, mas também da ausência dessas pautas nos planos de governo dos vencedores, conforme apontam estudos do TSE e da CNM. Mesmo candidaturas femininas costumam relegar essas questões a um papel secundário.

Voto para manter privilégios?

Em muitos casos, o voto funciona como um mecanismo para preservar o status quo. Questões como divisão do trabalho doméstico, igualdade salarial e direitos reprodutivos são percebidas como ameaças à estrutura de poder vigente. Ao escolher candidatos que prometem manter essas dinâmicas inalteradas ou avançar lentamente, o eleitor masculino assegura a continuidade de privilégios que já exerce.

Caminhos adiante

Não é justo delegar às mulheres a tarefa de educar o eleitor masculino. É fundamental que os próprios homens reconheçam que, ao votar nos mesmos discursos de sempre, perpetuam desigualdades que prejudicam toda a sociedade. Em debates, planos de governo e espaços de poder, é hora de deixar de lado pautas secundárias e colocar no centro do debate aquilo que afeta diretamente a maioria da população.

#ainternetqueagentequer

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