Mães atípicas, férias escolares e telas: e agora?

Níveis de estresse comparáveis aos de soldados e falta de apoio expõem sobrecarga física, emocional e financeira

Um estudo da Universidade de Wisconsin–Madison (EUA) revelou que mães de crianças com autismo ou outras deficiências apresentam níveis de estresse e cansaço equivalentes aos de soldados em combate. Sem redes de apoio especializadas em tempo integral, essas mulheres enfrentam uma vigília constante — emocional, física e financeira — que se intensifica ainda mais durante o recesso escolar, quando terapias e atividades de suporte também entram em pausa.

Um soldado ou apenas uma mãe atípica sem rede de apoio?

Na rotina dessas famílias, cuidar de uma criança “atípica” significa conciliar consultas médicas, sessões de terapia e adaptações no dia a dia para driblar um mundo que não foi pensado para elas. Com escolas e grupos de apoio em recesso, muitas mães ficam sozinhas para planejar horários, transportar equipamentos e manter terapias alternativas — tudo isso sem qualquer suporte governamental ou comunitário dedicado.

Para mães de crianças sem necessidades especiais, as férias costumam demandar apenas uma readequação de horários ou a busca por atividades de lazer. Já no universo das mães atípicas, as pausas escolares representam um colapso temporário de toda a estrutura de cuidado: amigos e familiares, muitas vezes despreparados, evitam o apoio; viagens e passeios viram labirintos de logística; e a ausência de instituições de ensino e terapia aprofunda o isolamento.

O custo de vida

Segundo o IBGE, mulheres chefes de família solo gastam, em média, 22% a mais em despesas relacionadas à infância do que unidades familiares com responsabilidades compartilhadas. No caso das mães atípicas, essa cifra dispara ainda mais: além de alimentação, transporte e consultas médicas, elas arcam com terapias especializadas, medicamentos, equipamentos adaptados e, frequentemente, a perda de renda ao reduzir ou abandonar o trabalho para se dedicar integralmente aos cuidados.

O abandono paterno: por que tantos homens deixam o lar?

Levantamento do Instituto Baresi mostra que 78% dos pais de crianças com deficiência se afastam antes que os filhos completem cinco anos. Esse abandono não reflete apenas descompromisso, mas uma cultura que romantiza a resiliência feminina e nega aos homens o espaço social e emocional para lidar com as demandas especiais. O resultado é uma sobrecarga ainda maior para as mães e uma estrutura familiar desequilibrada para as crianças.

Sem uma rede de suporte robusta — que inclua licença‑paternidade ampliada, vagas em convênios de terapia e centros de convivência adaptados —, as mães atípicas continuarão a cumprir uma jornada de guerra em território doméstico, sem trégua ou reconhecimento à altura de seu esforço.

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